quinta-feira, 12 de março de 2009

A Criança e o Jogo: Perspectivas de Investigação. Por Carlos Neto





O jogo e a motricidade são seguramente dois grandes indicadores do desenvolvimento da criança e reveladoras de dinâmicas específicas relacionadas com a idade, permitindo caracterizar um espaço autónomo de investigação. O conjunto de factores que influenciam este processo evolutivo é no entanto complexo e diverso, exigindo da parte dos investigadores, metodologias de estudo e instrumentos de análise suficientemente robustos com capacidade de descrever e interpretar estes fenómenos de uma forma ampla (macroscópica) e ao mesmo tempo restrita (microscópica) não esquecendo o nível de precisão e rigor necessários ao trabalho de investigação científica. No âmbito do estudo sobre o jogo relacionado com o desenvolvimento da criança, pode dizer-se que se fizeram grandes progressos nos últimos anos, considerando a literatura científica disponível e a sua divulgação em eventos e revistas da especialidade. Os diversos domínios de investigação e variáveis utilizadas, permitem concluir sobre a importância do jogo e da motricidade no processo de desenvolvimento da criança e do adolescente. O conhecimento alargado do efeito de factores biológicos, sociais e simbólicos no desenvolvimento lúdico-motor é assumido como um elemento fundamental em áreas de intervenção educativa, terapêutica e comunitária.


No entanto, é nossa opinião pessoal que necessitamos compreender melhor o impacto de mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas nos quotidianos de vida e das culturas de crianças e jovens. Os obstáculos existentes de acesso ao jogo livre e estruturado e os estilos de vida progressivamente mais sedentários, devido a problemas relacionados com os problemas do tráfego, insegurança e ausência de tempo, espaço e equipamentos lúdicos adequados às necessidades das crianças e jovens, merecem ser estudados no quadro de uma sociologia do jogo e da motricidade, capaz de explicar e definir soluções apropriadas a esta nova faceta dos tempos modernos. O valor político e económico e o debate internacional, por vezes científico, sobre a infância, tem emergido como uma preocupação essencial à definição de critérios de desenvolvimento social e ao aperfeiçoamento de melhores níveis de qualidade de vida da sociedade. A constatação de reduzida investigação sobre o jogo, visto nesta perspectiva (sociocultural), implica que sejam estudadas as crianças e os jovens como actores e construtores das suas próprias realidades nos contextos em que se movimentam e de acordo com os objectivos que dão sentido aos seus comportamentos (lógicas, crenças, motivações, discursos, interacções e preocupações). Interessa compreender qual o papel que o jogo, a motricidade, a actividade física e o lazer têm na vida quotidiana da criança e do jovem e que políticas de articulação e harmonização necessitam ser desenvolvidas entre a família, a escola e o trabalho dos pais, no sentido de ultrapassar as situações de "stress" e violência urbana que os cidadãos vivem de forma generalizada nos nossos dias.


A implementação da carta dos direitos humanos e mais particularmente dos direitos da criança ao jogo, exigem uma vigilância atenta da contribuição da investigação científica e das diversas experiências e programas de intervenção neste domínio.


O Jogo não é só um direito é uma necessidade. Jogar não deve ser uma imposição mas uma descoberta. Brincar/jogar não é só uma ideia é uma vivência. O jogo não é um processo definido é um processo aleatório.
Jogar/brincar não é só incerteza é uma forma acrescida de ganhar segurança e autonomia.

NETO, Carlos A Criança e o Jogo: Perspectivas de Investigação
Faculdade de Motricidade Humana
Universidade Técnica de Lisboa

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