quinta-feira, 12 de março de 2009

Contribuições para a sociologia da educação

A sociologia da educação cada vez mais se interessa por temas ligados à socialização infantil, desenvolvendo análises a respeito das chamadas “instâncias socializadoras”, onde ganham relevância principalmente a esfera familiar, a instituição escolar (Hurrelmann, op. cit.; Tillmann, op. cit.; Dubar, 1997; Parsons, 1955) e mais recentemente a esfera mediática.

Também reconhece que as amizades e as interações entre pares são importantes nesse processo; porém, de um ponto de vista teórico, elas tem sido tratadas fundamentalmente a partir de perspectivas da psicologia, principalmente no que se refere ao desenvolvimento das capacidades cognitivas infantis. O resultado é que, na maioria das vezes, se incorpora na área da sociologia da educação as categorias, problemas e abordagens da psicologia. Segundo Hurrelmann, que organizou o maior compêndio de estudos sobre as teorias da socialização infantil em língua alemã, os autores que procuram abordar o tema de um ponto de vista sociológico enfatizam justamente a ausência de trabalhos nessa linha.

O jogo infantil coletivo, visto como uma forma específica de socialização e abordado a partir das teorias da acção social, traz à tona a necessidade do desenvolvimento de análises sociológicas que também o abordem como uma “instância socializadora” ou, se isso parecer demasiadamente específico, evidencia a necessidade das interações entre crianças serem consideradas como uma “instância socializadora” com peso igual aos outros enfoques recorrentes, como aqueles centrados na esfera familiar e na instituição escolar (Krappmann in Hurrelmann, op. cit., p. 374).

Mesmo dentro da esfera escolar o jogo infantil coletivo livre deveria ser considerado uma parte muito específica da socialização, pois ao pensar a socialização dentro do âmbito escolar enfatiza-se usualmente um processo que ocorre, na maioria das vezes, de forma sistemática, no qual os conhecimentos adquiridos e suas formas de aquisição já estão em grande parte pré-definidos (Ferretti, 1993).


Porém, ao levarmos em conta uma dimensão socializadora da (e na) escola que se encontra também para além dos momentos educativos organizados e dirigidos, direcionamos nosso olhar, por exemplo, para o período do recreio, no qual a tendência é ocorrer uma socialização de forma não sistemática e difusa, se comparada aos períodos de aula, e quando o "jogar" desempenha um papel fundamental. O recreio escolar privilegia o jogar coletivo pois, na maioria das vezes, possibilita que um grande número de crianças joguem diariamente juntas num mesmo espaço amplo, constituindo para muitas crianças, principalmente para as que moram em grandes cidades, um dos poucos momentos nos quais podem realmente jogar coletivamente.

GRIGOROWITSCHS, Tamara. Jogo infantil colectivo como problema sociológico
– USP – tgrigoro@yahoo.com.br
GT: Sociologia da Educação / n. 14Agência Financiadora: CNPq

Fundamentos para uma teoria sociológica dos jogos


As tentativas de criar/elaborar uma teoria dos jogos não são actuais. Diversos e eminentes autores têm procurado estabelecer uma via que possibilite abarcar todos os jogos em categorias que estabeleçam uma organização nos vários aspectos que o jogo apresenta. Assim, autores clássicos com enfoques diferentes, como Piaget (1975), Huizinga (1938), Giradoux (1946), entre outros, procuraram estabelecer classificações e categorias mas, no entanto, ficaram devendo quanto a abrangência de um sentido lato, universal do jogo. Não podemos deixar de citar a nobreza de Schiller (1990) que, na observação dos jogos das nações centro-europeias, verificou que o povo, ao propor seus jogos, possibilita reconhecer seus gostos e relativamente caracterizar sua cultura. Schiller procura nos jogos a essência da arte, tese esta que marcou em sua literatura quando o homem - na busca o ideal de beleza - encontra no impulso lúdico o pleno sentido de jogar. Schiller convertido a leitura e ideias de Kant, retira o jogo da discussão matemática e moral para destinar o papel das preocupações estéticas.


Sobre as bibliografias dos jogos, veremos que a maioria dos autores só se preocupou com certos tipos de jogos e sua classificação em particular, aqueles que correspondiam às suas teorias explicativas, e menosprezou ou suprimiu sinteticamente a imensa maioria de jogos paralelos e intermediários, em outros casos, sequer abordaram o universo do jogo.

Piaget resumiu o seu trabalho nos aspectos pedagógicos do jogo. Estacionou suas teorizações no jogo escolar e no brinquedo. Deteve-se nos jogos infantis, atribuindo-lhes classificações no terreno da possibilidade da aprendizagem.

É com W. Benjamin (1984) que podemos entender a relação do jogo nos brinquedos. Os autores que teorizaram os jogos não discutiram a propriedade da dimensão imaginativa nos brinquedos já dados e construídos pela cultura. Benjamin busca exemplos na fabricação do brinquedo primitivo nas cidades alemãs do século XIX que, mais tarde, foram substituídas pelas oficinas industrializadas.

J. Chäteau (1987), atribui ao jogo função utilitária, entendendo a infância como espaço de treino para a vida adulta, passando pelo jogo. Château apresenta elementos encontrados em diversas classificações dos jogos: o jogo é sério, possuindo regras rígidas e convencionais. Em sua execução, chega-se á fadiga e às vezes ao esgotamento físico. No entanto, não revelou uma teorização mais aprofundada desses elementos. Para o autor, o jogo é tido como fuga do quotidiano causado pelo tédio do trabalho. Se assim admitirmos, o jogo leva a uma obsessão que compromete a posição gratuita e desinteressada de quem joga, dimensão essa tão latente na maioria das definições de outros autores.. Mas, esse autor vem revelar uma posição que diverge de outra teorias, pois entende que o jogo não é uma cultura residual que foi absorvida pelo mundo do jogo.

Em Huizinga, a teoria dos jogos é constituída com mais profundidade e, por sua vez, tendo mais inflexões na literatura em diversos cantos do mundo académico ocidental. A teoria de Johan Huizinga, em sua obra de 1938, Homo Ludens, defende a tese de que a cultura provém do jogo. Essa tese se arraigou em diversos campos de actuação de sociólogos, psicólogos e pedagogos, onde jogo é simultaneamente liberdade e invenção, fantasia e disciplina e todas as manifestações culturais são deles originadas. Esse autor entende o jogo como uma instituição autónoma. No entanto não mostra onde reside o processo acumulativo do jogo para que ele possa se constituir autonomamente.

Huizinga fundamenta a teoria de que o jogo é de fato mais antigo que a cultura, pois este mesmo em suas definições menos rigorosas pressupõe sempre a sociedade humana. Guttmann (1979), ao comentar o trabalho de Huizinga, argumenta que ele, ao fazer a distinção entre competições que são e que não são jogos, estabeleceu uma confusão que diminui consideravelmente o valor do seu trabalho. É o próprio Guttmann quem se vale das críticas de Caillois quando aponta que o trabalho de Huizinga "[...] não é um estudo dos jogos mas uma pesquisa com bastante fecundidade do jogo-espírito no domínio da cultura [...]", pois, ignorando a distinção entre jogos e os que não são jogos competitivos, "Huizinga administra e escreve um fascinante livro, mas fundamentalmente ofusca-o com poesia, religião, jogo, guerra, arte, música e política"(p. 71). Numa análise sem desprendimento de situar o jogo e a cultura, e sem querer finalizar a questão, temos que admitir que o gosto pela competição, a busca da sorte, o prazer pela simulação e a atracção pelo vertiginoso surgem, indiscutivelmente, como factores preponderantes do jogo, mas a sua acção se envolve na vida das sociedades e, e outra forma, a vida da sociedade se engendra nos jogos, embora de modo e intensidade diferentes.


ANJOS ,Luiz dos. O jogo e a dimensão humana: uma possível classificação antropológica
Luiz dos AnjosDoutor em Ciências Sociais pelo Depto de Antropologia daPontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC/SPUniversidade Federal do Espírito Santo Vitória, ES

A Criança e o Jogo: Perspectivas de Investigação. Por Carlos Neto





O jogo e a motricidade são seguramente dois grandes indicadores do desenvolvimento da criança e reveladoras de dinâmicas específicas relacionadas com a idade, permitindo caracterizar um espaço autónomo de investigação. O conjunto de factores que influenciam este processo evolutivo é no entanto complexo e diverso, exigindo da parte dos investigadores, metodologias de estudo e instrumentos de análise suficientemente robustos com capacidade de descrever e interpretar estes fenómenos de uma forma ampla (macroscópica) e ao mesmo tempo restrita (microscópica) não esquecendo o nível de precisão e rigor necessários ao trabalho de investigação científica. No âmbito do estudo sobre o jogo relacionado com o desenvolvimento da criança, pode dizer-se que se fizeram grandes progressos nos últimos anos, considerando a literatura científica disponível e a sua divulgação em eventos e revistas da especialidade. Os diversos domínios de investigação e variáveis utilizadas, permitem concluir sobre a importância do jogo e da motricidade no processo de desenvolvimento da criança e do adolescente. O conhecimento alargado do efeito de factores biológicos, sociais e simbólicos no desenvolvimento lúdico-motor é assumido como um elemento fundamental em áreas de intervenção educativa, terapêutica e comunitária.


No entanto, é nossa opinião pessoal que necessitamos compreender melhor o impacto de mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas nos quotidianos de vida e das culturas de crianças e jovens. Os obstáculos existentes de acesso ao jogo livre e estruturado e os estilos de vida progressivamente mais sedentários, devido a problemas relacionados com os problemas do tráfego, insegurança e ausência de tempo, espaço e equipamentos lúdicos adequados às necessidades das crianças e jovens, merecem ser estudados no quadro de uma sociologia do jogo e da motricidade, capaz de explicar e definir soluções apropriadas a esta nova faceta dos tempos modernos. O valor político e económico e o debate internacional, por vezes científico, sobre a infância, tem emergido como uma preocupação essencial à definição de critérios de desenvolvimento social e ao aperfeiçoamento de melhores níveis de qualidade de vida da sociedade. A constatação de reduzida investigação sobre o jogo, visto nesta perspectiva (sociocultural), implica que sejam estudadas as crianças e os jovens como actores e construtores das suas próprias realidades nos contextos em que se movimentam e de acordo com os objectivos que dão sentido aos seus comportamentos (lógicas, crenças, motivações, discursos, interacções e preocupações). Interessa compreender qual o papel que o jogo, a motricidade, a actividade física e o lazer têm na vida quotidiana da criança e do jovem e que políticas de articulação e harmonização necessitam ser desenvolvidas entre a família, a escola e o trabalho dos pais, no sentido de ultrapassar as situações de "stress" e violência urbana que os cidadãos vivem de forma generalizada nos nossos dias.


A implementação da carta dos direitos humanos e mais particularmente dos direitos da criança ao jogo, exigem uma vigilância atenta da contribuição da investigação científica e das diversas experiências e programas de intervenção neste domínio.


O Jogo não é só um direito é uma necessidade. Jogar não deve ser uma imposição mas uma descoberta. Brincar/jogar não é só uma ideia é uma vivência. O jogo não é um processo definido é um processo aleatório.
Jogar/brincar não é só incerteza é uma forma acrescida de ganhar segurança e autonomia.

NETO, Carlos A Criança e o Jogo: Perspectivas de Investigação
Faculdade de Motricidade Humana
Universidade Técnica de Lisboa

Sociologia de Simmel - a socialização como forma pura de interacção






Georg Simmel (1858-1918) foi um dos sociólogos que desenvolveu o que ficou conhecido como micro-sociologia, uma análise dos fenómenos no nível micro da sociedade. Foi um dos responsáveis por criar a Sociologia na Alemanha, juntamente com Max weber e Karl Max.




Simmel desenvolveu a Sociologia Formal, ou das formas sociais, influenciado pela filosofia Kantiana que distinguia a forma do conteúdo dos objectos de estudo do conhecimento humano. Tal distinção pretendia tornar possível o entendimento da vida social, já que no processo de socialização, o invariante eram as formas em que os indivíduos se agregavam e não os indivíduos em si.



Os processos qualitativos, no entanto, que assumiam tais formas também deveriam ser estudados pela sociologia geral, subproduto da formal, como a concebia Simmel. O autor não conferia aos grupos sociais unidades hipostasiadas, supervalorizadas com relação ao indivíduo. Antes via neste o fundamento dos grupos, daí que as formas para Simmel constituem-se em um processo de interacção entre tais indivíduos, seja por aproximação, seja pelo distanciamento, competição, subordinação, etc.



Esta sua concepção, então, não o fazia desconsiderar o papel dos conflitos sociais que, para ele, eram parte mesma da constituição da sociedade. Seriam momentos de crise, um intervalo entre dois momentos de harmonia, vistos, portanto, numa função positiva de superação das divergências. Influenciou assim as concepções conservadoras do conflito de natureza estruturalista e funcionalista, como em Coser

e Dahrendorf.


Um dos principais conceitos criado por Simmel é o de socialização. De acordo com este autor, a socialização seria uma forma pura de interacção, sem fim nela própria. Seria a interacção da ordem do estar junto, da manutenção das relações sociais, destituída de interesses políticos, económicos etc.



MORAES FILHOS, Evaristo de (org.). George Simmel: sociologia. São Paulo: Ática, 1983